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  • Carolina Bastos Pereira

Requiem for a Dream – Entre a queda e a utopia

Ansiava há muito ver o clássico Requiem for a Dream (2000), um drama subversivo de Darren Aronofksy, especialmente depois da surpresa de Black Swan (2010).


Na verdade, e apesar da diferença abismal de conceitos dos argumentos e de técnicas de gravação, é possível encontrar padrões na realização de Aronofsky, que tornam o seu cinema único, com uma estética violenta, explícita e avassaladora.


O filme surpreende no minuto inicial, em especial se, como eu, o espectador não previr a participação de Jared Leto, personagem principal que não destituiria valor ao filme se fosse substituído por outro ator - consigo visualizar no mesmo papel algumas caras mais carismáticas, como Vincent Cassel, que participa em Black Swan e que já deu provas da sua profundidade de interpretação em filmes como La Haine (1995).


De relevar é, contudo, o papel extraordinário da atriz Ellen Burstyn, que, com o seu sorriso perturbador, que transmite um desespero e insanidade camuflados, comove sem excessividades, num papel complexo que é o da representação da velhice, da solidão e do refúgio desses medos na ilusão, na utopia.


Mais do que um filme de terror psicológico, como as reviews que tinha lido anteriormente faziam crer, Aronofsky criou um drama psicadélico, que prima, inesperadamente, mais pela realização do que pelo guião.


Surpreendem-nos os frames rápidos, que atordoam e fazem perfeito sentido num filme sobre vícios e substâncias alucinogénias, aliás, já antes vistos num filme igualmente alucinante como o é Black Swan – enquanto, num filme vulgar, 100 minutos de película contêm cerca de 600 cortes, em Requiem for a Dream vemos mais de 2000, o que gera um efeito assoberbante de confusão, submergindo-nos no mundo de caos em que vivem as personagens.


Assistimos, assim, ao desmoronar de vidas e aos momentâneos sonhos daqueles que cedem ao universo do prazer instantâneo - as drogas, o sexo, a televisão - e nele se refugiam, alheando-se da vida real, que tantas vezes no filme se funde com a alucinação – por longos momentos não sabemos distingui-los. No entanto, o realizador sabe que essa distinção não é relevante e, pelo contrário, prende-nos nessa espiral de decadência e de ilusão, passando para os nossos olhos a forma de ver o mundo das personagens.


Requiem for a Dream consagra Darren Aronofsky como um dos melhores cineastas da atualidade, captando num verdadeiro requiem o humanismo que resta daqueles que caem, todos os dias, aos nossos olhos.



Carolina Bastos Pereira

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