Espelhos, sombras, vultos, luzes e sons asfixiantes compõem o assoberbante Black Swan (2010), magnum opus de Darren Aronofsky.
Estrelando a brilhante Natalie Portman, o filme leva quem o vê a um delírio progressivo, à semelhança da personagem principal, Nina, escolhida para interpretar o Bem e o Mal, o cisne branco e o negro, no bailado Lago dos Cisnes, para uma reputada companhia de ballet.
Nina procura atingir, na arte e na vida, a estranha palavra cuja busca dita as escolhas que todos fazemos: a perfeição.
Para Kant, perfeição significa completude, harmonia, algo idealizável, mas nunca alcançável, e que deverá, no entanto, guiar o Homem nas suas decisões.
Ao longo do filme, acompanhamos Nina e a sua mente, através de planos e movimentos de câmara exímios, que nos atordoam e perturbam, e que ditam o tom de Black Swan, um filme sobre a busca da perfeição e a insanidade.
Aronosfsky desconstrói a ideia kantiana, vira-a do avesso e atira-nos à cara aquele que é um dos melhores filmes da história do cinema. E se a perfeição for alcançável?
E se a perfeição for, também, o feio, o visceral, o obsceno? A loucura.
Black Swan joga ainda com o conceito do Belo e do Horrendo. Nina pensa que a beleza e a perfeição se fundem, num compêndio harmonioso, porém lógico. Assim, faz tudo pela dança, deixando de viver, automatizando-se e focando-se em atingir a perfeição através dos seus passos de dança, controlados, irreprimíveis.
No entanto, o que lhe escapa é que a beleza não basta para atingir o que pretende. Falta-lhe o lado negro: o inexplicável, a entrega total à peça, que só poderá resultar na sua metamorfose progressiva, do cisne branco ao cisne negro. Do Belo ao Horrendo. Assistimos, deste modo, à transição da personagem para a loucura, pois só esta lhe poderá dar o que procura: a perfeição.
A cena final é uma das mais impactantes da história da sétima arte. A morte do cisne branco. A entrega total ao subjetivo e ao insano: à escuridão. A morte como o remate final essencialíssimo.
Afinal, existem obras perfeitas: são as que contêm em si mesmas a Beleza, o Horror, a Vida e a Morte, como Black Swan.
Carolina Bastos Pereira
Carolina, Obrigada pela tua partilha. Os contrastes - Apolíneo versus Dionísiaco - fazem parte de um mesmo todo, (des)harmonioso, em permanente conflito. Querer reduzir a vida a apenas a alguns dos seus elementos é , porventura, a maior insanidade. A beleza está no conflito dos opostos, na sua permanente dança. O Filme é disso um " espelho". bjjinhpss para ti :)
I love this filme. Aronofsky is powerful and he just gets into the "twisted" inside of the female character, played by the beautiful Natalie Portman! Thank you Carolina for the perceptive and beautifully articulated text!