Que melhor sensação existe para um bom cinéfilo do que a de chegar a casa após um longo dia de trabalho, tirar os sapatos, imaginar uma chuvada lá fora ao estilo Woody Allen e estender-se no sofá a ver um filme? Decerto será um bom cenário até para aqueles que não cultivam especialmente a sétima arte.
Porém, o que muitas vezes nos escapa quando observamos tanto uma frenética e vermelha cena tarantinesca como um dos clássicos planos estáticos de longos minutos do nosso – mas não menos importante - Manoel de Oliveira, é o vínculo existente entre o realizador e a obra.
De facto, em todos os filmes dignos de serem assim chamados existe necessariamente uma entrega do realizador ao filme, quer seja através da vontade daquele em fazer chegar uma mensagem ao espectador, quer seja porque a película contém elementos autobiográficos.
Pessoalmente, sempre me interessaram em especial os filmes cujo roteiro é escrito pelo próprio realizador. Nestes, o autor dá à sua obra um cunho pessoal, muitas vezes até partindo para o existencialismo ou a procura de um sentido para a vida – notem-se os atormentados filmes de Ingmar Bergman, cujos roteiros sufocantes nos levam muito para além das expressões faciais de Liv Ullmann: o segredo está no guião, e nesse, o grito desesperado de um homem que se interroga.
Mas também nos filmes de puro entretenimento, naqueles que no final não nos deixam a pensar na efémera passagem do Homem pelo mundo, mas sim no incrível salto executado por aquele herói da Marvel, há também elementos que fazem dele um filme exímio, digno de reconhecimento. Um enredo marcante, a capacidade de colar o espectador ao ecrã e até fazê-lo chorar a morte de uma personagem, os espetaculares efeitos especiais e muitos outros elementos contribuem para que filmes clássicos como Regresso ao Futuro ou 007 sejam isso mesmo, um must see para qualquer amante de cinema que se preze.
Deste modo, a arte da realização, atividade tão importante e tão menosprezada, é o que torna possível que se produzam filmes subtis e marcantes. Muitos deles mudaram a minha vida e, decerto, também a sua.
Carolina Bastos Pereira
Dear Carolina. Há mesmo tanto para além do entertainment, as popcorns, como tu dizes. O cinema é uma arte maravilhosa que nos faz sonhar, que nos faz entrar na mundividência de um realizador e partilhar da sua visão e projeção de beleza, da sua estética, das suas angústias e inquietações. Adorei o teu texto.